quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Dica de leitura: Cruz e Sousa

    O C&C está de cara nova e conteúdo melhorado! Contudo, a linguagem ácida e a ousadia permanecem as mesmas! Nosso desejo é ver o Brasil se transformar em um país crítico de verdade. Para isso, a partir de agora, nós, o casal C&C, faremos uso de mais um potente artifício para contribuir nessa transformação: A leitura de VERDADE! Em meio a toda contaminação literária que invade a terra verde e amarela, o C&C traz o antídoto.Todas as semanas atualizaremos nosso banco de leitura dando a você a oportunidade de conhecer a VERDADEIRA literatura nacional. 

    Hoje, eu , Lady Jéh, trago um pouco de informação a respeito daquele que é provavelmente o maior dos poetas simbolistas brasileiros. Estou falando de Cruz e Sousa, aquele a quem o título de poeta chega a até a desmerecer suas qualidades, podemos dizer que ele foi um verdadeiro mágico talvez até um feitiçeiro, alguém que conseguia brincar com as palavras, transformá-las, enfeitiçá-las... e nos enfeitiçar.Um homem a quem a sociedade foi cruel. Não! a sociedade não tem nada a ver com isso, é apenas uma desculpa para encobrir os verdadeiros culpados: as pessoas. Vítima de racismo, João da Cruz e Sousa passou por momentos terríveis, humilhado, rejeitado, pai de quatro filhos, dos quais dois faleceram, tinha de sustentar uma família onde a mãe            acabou enlouquecendo e ele, o pilar da família acabou desmoronando, aos 36 anos, por conta de uma tuberculose. Mas a vida não conseguiu ser tão cruel quanto Curz e Sousa era sonhador. Ele continuou seguindo, sonhando, criando, transformando e enfeitiçando as pessoas, fazendo seu próprio mundo dentro do mundo. Um mundo do qual eu tenho o enorme prazer de apresentar-lhes, caros leitores, a porta.
Mais uma vez agradecemos a visita e  BOA LEITURA!
Lady Jéh


Acrobata da Dor 


Gargalha, ri, num riso de tormenta, 
como um palhaço, que desengonçado, 
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado 
de uma ironia e de uma dor violenta. 



Da gargalhada atroz, sanguinolenta, 
agita os guizos, e convulsionado 
salta, gavroche, salta clown, varado 
pelo estertor dessa agonia lenta ... 


Pedem-se bis e um bis não se despreza! 
Vamos! retesa os músculos, retesa 
nessas macabras piruetas d'aço... 
E embora caias sobre o chão, fremente, 
afogado em teu sangue estuoso e quente, 

ri! Coração, tristíssimo palhaço.


Música da Morte



A música da Morte, a nebulosa, 
estranha, imensa música sombria,
 
passa a tremer pela minh'alma e fria
 
gela, fica a tremer, maravilhosa ...
 
Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
 
letes sinistro e torvo da agonia,
 
recresce a lancinante sinfonia
 
sobe, numa volúpia dolorosa ...
 

Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
 
tremenda, absurda, imponderada e larga,
 
de pavores e trevas alucina ...
 

E alucinando e em trevas delirando,
 
como um ópio letal, vertiginando,
 

os meus nervos, letárgica, fascina ...

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