Cruz e Sousa: "O horror dos vivos"

A nossa dose de leitura de hoje vai para o nosso já conhecido Cruz e Sousa com seu poema "O horror dos vivos" uma obra que nos faz refletir sobre as diferentes maneiras de se encarar a vida e a morte. Um poema sombrio e ao mesmo tempo sublime no sentido mais literal da palavra.

Lady jéh

Ao menos junto dos mortos pode agente

Crer e esperar n'alguma suavidade:

Crer no doce consolo da saudade

E esperar do descanso eternamente.

Junto aos mortos, por certo, a fé ardente

Não perde a sua vida na claridade;

Cantam as aves no céu na intimidade

Do coração o mais indiferente.

Os mortos dão-nos paz imensa à vida,

não a lembrança vaga, indefinida

Dos teus feitos gentis, nobres, altivos.

Nas lutas vãs do tenebroso mundo

Os mortos são ainda o bem profundo

Que nos faz esquecer o horror dos vivos.